quarta-feira, 13 de junho de 2007

A sala de espelhos

Ela entrou naquela sala, parecendo por fora tão pequena e escura, mas que por dentro revelava toda a clareza e magnitude que desejava encontrar. Ao ouvir a porta se fechando às suas costas, imediatamente deparou-se com aquela figura tão pequena e robusta, de traços tortuosos e face distorcida.
Aproximou-se e enxergou todo o cinismo e vergonha que conduziam seus atos. Viu a mediocridade naqueles olhos indefinidos, a trapaça desenhando seus lábios, a hipocrisia naqueles curtos braços erguidos, a mentira manipulada entre as mãos. Viu toda a fraqueza definida naquele tronco, a insatisfação enganada no movimento dos quadris. Percebeu a miséria sob aqueles pés inquietos e toda a angústia contida nas pernas tortuosas.
Num misto de desconfiança e medo, ela correu, deparando-se com aquela criatura alta e esguia, assustadoramente disforme. Acima daqueles ombros brutos, ela sentiu a força da loucura. Os grandes olhos seduziam e hipnotizavam. A boca, repleta de certeza, ditava suas ordens. No peito fraco e pequeno ela viu a humilhação; e no tronco imóvel, toda a abnegação. Os joelhos, em carne viva, indicavam a submissão absoluta, enquanto os pés, desproporcionalmente enormes, mostravam toda a dor suportada.
Chorando, ela procurou por ajuda. Encontrou um ombro largo, mas tão alto que era impossível ser alcançado. Encontrou um rosto curvado e viu nele a serena sabedoria, mas aproximou-se demais e percebeu-o dominado pelo orgulho. Suspirou aliviada ao ver dois longos braços estendidos, mas quanto mais perto chegava, mais distante eles lhe pareciam.
Seguiu correndo, encontrando bocas que nunca calavam, gigantes ouvidos surdos, lágrimas fingidas que evaporavam antes de tocar o chão.
Cansada e ofegante, ela cai de joelhos. Entre a decepção e a desilusão, ela desiste de encontrar a saída.
Impossível fugir de dentro de si mesma.

5 comentários:

Maikel De Abreu disse...

Estou surpreso. Achava que vc escrevia sobre amenidades. Tipo assim, primeira impressão. Mas tem algo de autobiográfico nisso? Não precisa responder... Tb destesto que as pessoas perguntem a mim isso. Mas esse texto é claustrofóbico...Adoro isso. Tem cara de cidade... Quem está desiludido...todos nós?

Vivian Fiorio disse...

Maikel: não é de hoje sua mania de tirar conclusões erradas sobre a minha pessoa huahauahaua (nossa amizade estranha nasceu disso e jamais esquecerei :P)

Agora, autobiográfico? Completamente.

E quem não se sente aprisionado e, portanto, desiludido e desesperado, dentro de si mesmo?

Maikel De Abreu disse...

Olha vivi... Vc terá sucesso certo..

Abraços.

Anônimo disse...

Cara... TU é foda e ponto.

Amo te tu.

Adele Corners disse...

Ai! Qual o problema de escrever sobre amenidades?

A beleza e a pobreza estão em tudo...