segunda-feira, 4 de junho de 2007

Num futuro não muito distante...

Foi num dia comum desses que a gente tem sempre. Eu andava pela calçada dando um salto a cada dois passos mais ou menos. Seguia desviando os buracos bem desse jeito, como fazia todos os dias. Mas naquele dia eu caí. E logo que caí olhei para o lado e compreendi: havia tropeçado na perna de um garoto que dormia ali. Como ele não se movia, me irritei e cutuquei-o com a ponta do guarda-chuva. Ele acorda meio desorientado e eu, ainda no chão, grito:
- Você invadiu meu espaço! Essa parte é minha, tira essa perna para lá.
- Não senhora, paguei por esse canto aqui, tenho 1m23 de altura, posso esticar minha perna aqui.
- Deixe-me ver a autorização.
- Autorização?
- Ihhh já vi que não tem. Quem te vendeu esse espaço?
- Um moço que anda sempre por aqui. Por quê?
- Ele te cobrou quanto?
- Pago 5 caixas de doce no fim do dia.
- E isso equivale a quanto?
- 1 sanduíche de presunto.
- E você come o que agora?
- Como 1 sanduíche de presunto, só que é de dois dias. Antes eu comia de um dia.
Considerei por um momento.
- Ah bom, assim tá certo. Mas onde está sua demarcação?
- Aqui ó: vem aqui, até aqui e faz esse quadrado. E aqui eu coloco a cabeça.
- E não dói?
- Só no início, mas acho que amaciei a pedra um pouco. O fato é que minha cabeça cabe direitinho nesse espaço e é por isso que minha perna fica aí.
- No meu espaço!
- Senhora eu já disse que paguei por isso!
- Pois eu tenho autorização para passar nessa calçada e meu contrato diz que esse espaço é meu. Provavelmente você está sendo roubado. Não tem autorização pra ficar aí não é?
- Tenho não senhora, mas não conta pra ninguém... se eu comprar com autorização vou ter que encarar sanduíche de 4 dias... sem presunto.
- O que é certo é certo. Vou te processar.
- Ah é?? Então pode processar, eu chamo meu advogado.
- Pois bem. Veremos.
Levantei e sacudi a poeira da calça. Ergui a cabeça e segui em frente, em tempo de ver o garoto ligando para o seu advogado do celular naquele exato momento.

Humpf. Crianças.

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