terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A preferida

Por trás da fumaça branca dava pra ver o cinza dos seus olhos opacos. Os lábios um pouco sorrindo tinham um leve brilho cor de boca. A expressão que dizia tudo contrastava com as pernas jogadas em calça jeans rasgada. Não era estilo, era excesso de uso.
Ela se recostou na cadeira, fazendo a madeira velha ranger. Ao seu redor, poucos móveis, e todos diziam nada além do que deviam dizer. Era apenas mobília.
E era assim, mais linda, sonolenta, preguiçosa, que ela arrastava algumas palavras, entrecortadas pelo riso e uma tragada volta e meia.
No chão, um copo quebrado deixava escorrer o líquido que penetrava nas frestas do chão e espalhava-se quase sumindo. Pontas das meias gastas mostravam um pedaço do calcanhar de tanto rastejar. Ela não erguia-se para andar...
E num momento breve de quase susto levanta e arremessa a cadeira pela janela. Escolheu a fechada. Gostava do som do vidro quebrando e logo mais não teria mais vidros para quebrar.
Rindo, sentou-se no chão e juntou os cacos. Com uma ponta afiada, cortou um pedaço do cabelo e estendeu em minha direção.
- Tome, agora me tens por completo.