quarta-feira, 11 de julho de 2007

Vinho barato

Eu fico aqui parada sempre nesse lugar, nessa mesma posição. Fico na ilusão de que, se tentar repetir o momento, vou poder mudar a história. Ou pelo menos entender melhor.
Mas vejo sempre a mesma cena, ouço sempre as mesmas palavras, e a compreensão me escapa mais uma vez.
Se eu tivesse fotografado seu rosto naquele instante, talvez tivesse congelado o que seus olhos tentaram me dizer. E talvez as frases tivessem ficado marcadas para que eu te jogasse na cara e te fizesse ver que não tinha mais como esconder.
Porque agora estou aqui. Só eu e essas minhas verdades ralas e inconstantes, turvas afogadas no meu vinho de má qualidade. Em taça de cristal, ele pensa que engana. Mas sua cor e cheiro me fazem rir de tamanha pretensão.
Como ele, também tentei ser mais forte, ser original. Como ele, tentei ser madura e voraz. Tentei ser cara e confiável, sexy e soberana. Mas como ele, tropeço nas minhas falhas e pinto sua boca, entregando minha fraqueza vulgar e insólita. E aí tu me bebe fria, em copo de plástico, para provar que não mereço nada melhor. E do teu lado, já espera a aspirina, santa amiga dessas noites cheias de restos.
Tentei também ser aspirina. Tão fútil tentativa... me desfiz em pó no primeiro sopro. E agora me recolho e me monto, tentando achar uma forma que quebre teu mundo. Sem bases, sem fórmulas, a única que me resta é a verdadeira. Mas esta, como o vinho fingido, foge pelas mãos e mancha a pele, só para avisar que não a posso ter, mas que estará sempre lá.
Esse chão sempre tão firme, racha-se inteiro em pontas afiadas. Ergo os pés, mas ele ataca com pressa. Me causa tonturas, mas não me rendo assim tão fácil.
Tento escrever e a caneta falha. A música está tão alta! Uma batida desajeitada, uma voz desafinada, ela faz as janelas tremerem e dá o recado: não te deixaremos pensar.
Vejo que esse circo dos horrores é um complô, e dou gargalhadas amargas no faz-de-conta de que ainda tenho as rédeas. Mas eles sabem que não tenho nada a não ser uma mente insana que desenha luares perfeitos e sorrisos quentes.
Eles sabem que não tenho nada. Nem a mim... Nem a ti.

3 comentários:

Unknown disse...

É a busca incessante daqueles que não se contentam em ser igual ao resto da multidão, e que por vezes percebem que ainda assim, em certos momentos agimos (por força do meio, e/ou de nossa fraqueza) ou somos considerados tanto qto aqueles que não saem do lugar...mas a questã é ver, e procurar sair, mesmo que as vezes n dê certo.
Bjão bom findi!

Davi Coelho disse...

Vinho Barato que a mim soou refinado, atraente e sofisticado como um vinho da mais alta qualidade.
Gostei mesmo.

Parabéns!
=*

Maikel De Abreu disse...

" Mas como ele, tropeço nas minhas falhas e pinto sua boca, entregando minha fraqueza vulgar e insólita. E aí tu me bebe fria, em copo de plástico, para provar que não mereço nada melhor. E do teu lado, já espera a aspirina, santa amiga dessas noites cheias de restos."

YEAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!
Bjos.